Diante de tais circunstâncias, as quais ainda não abordei, gostaria de iniciar um diálogo remetendo-me há dez anos atrás, para então, relatar quais são estas circunstâncias atuais.
Bem, em 2003, vivia um período de frustração, como todo jovem quando não alcança seus objetivos (sonhos); de certo modo, não que tal sensação tenha mudado muito no presente. Na época, após diversas tentativas para ingressar no ensino superior, prestando vestibulares em universidades federais (respectivamente UFSM e UFRGS), sem sucesso de aprovação, acabo desistindo da ideia do curso - uma desistência falsa pelas circunstâncias presentes - e mudo o rumo da minha jornada buscando novas perspectivas - o que é extremamente normal para qualquer indivíduo. Tentando amenizar a frustração, minha motivação foi ingressar no cultivo de uma espécie de planta chamada "cacto". Lembro que, no período, investi todas minhas economias na construção de uma pequena estufa - hoje chamado de "Cactário Cactu'san". Podemos considerar este período como fase embrionária - o investimento ou puramente um hobby. Isso fará sentido no final da postagem.
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Cactário CACTU'San" |
Um tempo depois - "coisas do destino" ou simplesmente, uma obstinação mascarada - tive contato com outra universidade (particular) através de informações pesquisadas por um dos meus antigos "chefes" de trabalho. Fui incentivado por este e, com grande apoio, iniciei meus estudos em 2005 na UNIJUÍ cursando a licenciatura em Artes Visuais. Neste período simultâneo, conciliei estudos, trabalho e a função de cacticultor (cultivo dos cactos). No entanto, o manuseio - podemos dizer assim por enquanto - da planta era posto como algo separado; uma prática afastada das reais intenções no campo da arte.
A partir de de 2008, a frustração que tornara-se motivação ganha um propósito fundamental, ou seja, a figura do cacto exerce, com soberania, o papel de temática no desenvolvimento de uma poética visual. Chegamos então na fase do nascimento - o bebê era lindo! Era uma pintura! Tinha uma "carinha de cacto" que conectava-se ao pop, mesclando formas figurativas e abstratas; um estilo camuflado para ser mais claro (há exemplos nas postagens antigas do blog).
Em 2009, após a formatura, um alívio imediato toma conta do espírito. Por isso chamo de imediato - rápido, passageiro. Mas meses depois, percebo que finalmente a criança começa a andar e dar seus primeiros passos. Surge meu primeiro trabalho sério, se assim posso classificá-lo. E, diante deste acontecimento, como toda criança, não para mais de andar, ou melhor, correr.
O que era mais óbvio, não era valorizar o simples caminhar/correr, mas tentar dar sentido e conhecimento a esta criança. Foi justamente isso que aconteceu em 2010. Iniciei o curso de bacharelado em Artes Visuais na mesma universidade. O período serviu para a criança aprender a falar, a se comunicar e se mostrar presente dentro das possibilidades - tanto estéticas quanto teóricas - levando em conta sua idade e seu amadurecimento tão precoce.
Não satisfeito com tantas novidades e olhares, a criança, que agora não pode ser considerada um criança, mas um adolescente emburrecido, decide se aventurar em 2011. Essa aventura - mais otimista - contribui de alguma forma para tentar levar juízo ao adolescente que cresce rapidamente sem saber qual sua importância ou seu papel neste mundo.
Faz-se necessário afirmar que algo mudou nesses últimos anos. Da fase criança até uma adolescência "emburrecida" houve uma grande transformação. A pesquisa ou a experimentação - se assim podemos considerar o processo - foi indispensável para se perceber dois aspectos iniciais: de que este é o caminho e que ele não tem um fim estipulado para ser percorrido. Pois sabemos que não basta ter uma carinha bonita e saber falar. O mínimo é saber pensar - ou talvez pensar que se sabe pensar. Bem.... estamos quase chegando nas circunstâncias atuais, da qual descrevia lá no início da postagem. Esta fase, aqui, podemos chamar de fase construtiva - da personalidade. O momento é crucial e, provalmente, mudará para sempre a impressão das coisas que nos rodeiam e o rumo da proximidade longínqua.
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Em experiência... em pesquisa... |
Para encerrar - o que não farei e nem pode admitir-se neste momento - quero recordar que não importa a caminhada. Ela é necessária para o aprendizado do que é uma trajetória; sempre haverá algo místico e talvez não explicável - ao meu ver - para alguns fatos que vivenciamos. O que quero dizer, mais precisamente, é que cada instante é único e tudo possui um vínculo. Devemos entender a técnica da costura, ou seja, a conecção de algo do acaso do passado, que não foi acaso, e que hoje cumpriu um próposíto mesmo não tendo um quando aconteceu - muito filosófico, mas não interessa.
Finalmente chegamos nas circunstâncias atuais. Há tempo para tudo. Cada coisa acontece no momento certo - penso desta forma. Um fato gera outro, causa e consequência, ou ainda, o destino querendo se retratar - fato místico. Exemplificando: na época que não consegui ingresso na graduação, anterior a 2003, numa universidade federal - cito a UFSM, da qual fui reprovado três vezes, o investimento da frustração (do cultivo do cacto) serve, hoje, dez anos depois (2013), para retornar ao mesmo ponto inicial: o marco zero; a perspectiva de entrar numa universidade federal e discutir, na pesquisa de mestrado, justamente, o vínculo da minha frustração. Esta circunstância enfim delimita - ou dá abertura - a fase de construção da qual mencionei anteriormente. Sem a frustração, as circunstâncias de que trato, talvez, não seriam as mesmas. É um momento atemporal. É como voltar dez anos no tempo e vivenciar uma experiência não experimentada. Esta sensação faz-me refletir e instaurar tal pensamento: de ver o embrião tornar-se adulto novamente, perpassando por todas as fases. Qual será a sensação após esta experiência? São respostas que só o tempo - o processo da arte - irão ou não responder.
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Construção: instaurando um pensamento |